Lesões em dedos na prática dermatológica (2024)

INTRODUÇÃO

As lesões localizadas em quirodáctilos e pododáctilos merecem atenção especial noexame dermatológico, pois pés e mãos são de grande funcionalidade para ospacientes.1 Muitas delas podem sertratadas por dermatologistas com capacitação em cirurgia dermatológica.2,3

Os tumores de tecido mole de mãos e pés originam-se da pele, tecido subcutâneo,tendões, nervos e vasos sanguíneos. Suas características e a gravidade dos sintomasvariam de acordo com localização, tamanho e tipo de tumor, e muitos deles podem terdiversas formas de apresentação.1,2 O aparelho unguealpode ser acometido por tumores benignos e malignos, que podem ser comuns ouraros.3

Verrugas virais, infecções fúngicas ou bacterianas, exostose subungueal, tumorglômico, tumor de Koenen, fibroqueratoma, onicomatricoma são exemplos de lesõesbenignas.3 Apenas pequena parte dostumores ungueais é maligna, e os mais diagnosticados são o carcinomaescamocelular1,2,3 e o melanoma subungueal, sendo este último mais temido, por apresentarcomportamento agressivo quando diagnosticado tardiamente.3

A proposta deste trabalho é fazer um levantamento bibliográfico sobre lesõeslocalizadas em quirodáctilos e pododáctilos frequentemente observadas nosatendimentos dermatológicos, abrangendo aquelas localizadas no aparelho ungueal e asopções terapêuticas disponíveis para cada uma delas. Entre diversas classificaçõesexistentes, essas lesões foram agrupadas pelos autores em: tumorais, inflamatórias,traumáticas e infecciosas (Quadro 1).

Quadro 1

Classificação das lesões localizadas em dedos conforme sua origem

TumoralTraumáticaInflamatóriaInfecciosaOutras
VascularAlterações da lâminaunguealPsoríase unguealVerruga viralDepósito de substância napele
- Tumor glômico- Unha em pinça- Tofo gotoso
- Hemangioma- Unha em telhaParoníqua crônica
- Granuloma piogênico- CoiloníquiaAlterações genéricas
- Microníquia
Cística- Dedo rudimentar
- Cisto epidérmico- Dedo extranumérario
- Cisto mucoso / mixoide
Queratose actínica
FibroepitelialOnicocriptose
- Fibroqueratoma digital adquirido
- Tumor de KoenenCalosidades / Knucklepads
- Dermatofibroma
- Fibrolipoma
- Pólipo fibroepitelial
- Fibromixoma acral superficial
- Angiofibroma
Melanocítica
- Nevos melanocíticos
- Melanoma
Epitelial
- Carcinoma Escamocelular
Neurais
- Neuroma encapsulado em paliçada
- Neurofibroma
- Mixoma / Neurotequeoma
Outras
- Osteocondroma
- Onicomatricoma

CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES

Lesões tumorais

Vasculares

Tumor glômico

Trata-se de neoplasia vascular benigna de células glômicas que compõem umaestrutura neuromioarterial, com função de regular a circulação sanguínea e atemperatura corpórea. Apresenta-se como um tumor subcutâneo intensamentedoloroso de crescimento lento.1,3-5Frequentemente, é observado como lesão única na falange distal dos dedos,representando de um a 4,5% das neoplasias das mãos e mais localizada naregião subungueal (Figura 1). Ocorrenas extremidades em 80% dos casos, sendo mais frequente nosquirodáctilos.2,5

Lesões em dedos na prática dermatológica (1)
Figura 1
Ressecção de um tumor glômico subungueal do quartopododáctilo direito

O tratamento dessa neoplasia consiste na excisão cirúrgica da lesão,realizada via transungueal, incisão lateral, cirurgia micrográfica de Mohs,sendo sugeridas novas técnicas, como a abordagem subperiosteal lateralmodificada que visa à preservação ungueal.3-7

Hemangiomas

Caracterizam-se como neoplasias benignas de células endoteliaisvasculares, frequentemente encontradas em crianças, que surgem nasprimeiras semanas de vida, passam por aumento rápido em seu tamanhoseguido por involução e regridem tipicamente até os sete anos devida.8,9 Raramente situam-se nos dedos. Oshemangiomas superficiais apresentam-se como placas avermelhadas bemdelimitadas, enquanto o envolvimento de tecidos mais profundosapresenta-se como massa dolorosa, podendo confundir-se com tumoresmalignos. As complicações incluem ulceração, sangramento e infecção. Aconduta pode ser expectante, em caso de lesões pequenas eassintomáticas. Lesões sintomáticas e em progressão podem ser tratadascom corticosteroides, betabloqueadores, como propranolol, e ablação alaser. A excisão cirúrgica deve ser considerada quando a lesão evoluircom comprometimento funcional, dor ou crescimento acelerado.9

Granuloma piogênico

É tumor benigno adquirido de origem vascular. (Figura 2) Relativamente comum, com frequênciaenvolve o leito ungueal e tecidos periungueais, como lesões que sangramfacilmente.4,10 Sua etiologia é incerta, masfatores como traumas,4,10infecções, drogas, hormônios sexuais associados à gravidez, bem como aprodução de fatores de crescimento nagiogênicos e superexpressão defatores de transcrição fosforilados − ATF2 e STAT3 − estão relacionadosa seu aparecimento. O exame histológico é essencial para excluir omelanoma amelanótico.4 Otratamento do granuloma piogênico pode ser realizado comcorticosteroides tópicos de alta potência ou curetagem cirúrgica sobanestesia local. Quando leva à retroníquia, a cirurgia é o tratamento deescolha, com remoção da lesão nas dobras ungueais e avulsão da placaungueal. A lesão pode, ainda, estar associada a doenças inflamatóriassistêmicas, incluindo sarcoido-se cutânea, psoríase e espondiloartriteseronegativa, sendo mais difícil o tratamento nesses casos.10

Lesões em dedos na prática dermatológica (2)
Figura 2
Granuloma progênico localizado em segundo quirodáctilo deuma gestante

Císticas

Cisto mucinoso/mixoide

O cisto mixoide é neoplasia benigna de etiologia incerta, de pequeno tamanho,que contém mucina em seu interior. Localiza-se geralmente na regiãointerfalangiana e pode acometer a região da matriz ungueal, causandoalterações na superfície da unha e deixando-a sulcada.11 Alguns autores consideram que seja idêntico ao cistosinovial, mas a maioria acredita que resulta de uma alteração degenerativado tecido conjuntivo com consequente aumento na síntese de ácidohialurônico. Atinge pessoas de meia idade e idosos, acometendo duas vezesmais mulheres do que homens.4,11 Nadermatoscopia compressiva, aparece como lesão translucente,11 o que confirma sua naturezacística.4 Existem diversostratamentos propostos, como drenagem com destruição do seu leito,transfixação do cisto, aspiração e injeção, crioterapia e retiradacirúrgica.12

Fibroepiteliais

Fibroqueratoma digital adquirido

É tumor benigno adquirido, de tecido fibroso, que geralmente se localiza naárea periungueal ou em outras partes dos dedos.4,12,13 Suaprimeira descrição data de 1968, por Bart et al.12 O trauma é considerado o maior fatorpredisponente, embora sua etiologia ainda não seja elucidada. Apresenta-secomo nódulo normocrômico, único, liso, assintomático, em forma de dedo(fingerlike), podendo ser séssil ou pedunculado (Figura 3). Importante sinal clínicodiferencial é a presença de colarete na base da lesão. Não sofre regressãoespontânea, sendo mais frequente em adultos.13 O diagnóstico é histopatológico em todos os casos, sendocaracterizado por acantose e hiperqueratose. O tratamento de eleição é aexcisão cirúrgica.4,13

Lesões em dedos na prática dermatológica (3)
Figura 3
Fibroqueratoma digital adquirido observado em região subun-câncer de pele de maior morbidade e mortalidade, embora apregueal de terceiro quirodáctilo

Tumor de Koenen

São fibromas benignos periungueais que se desenvolvem em 50% dos casos deesclerose tuberosa (epiloia ou doença de Bourneville-Pringle).3,4 Geralmente, aparecem entre os 12 e os 14 anos de idadee aumentam progressivamente de tamanho e número com o passar dos anos. Podemser assintomáticos ou dolorosos, quando maiores.3 São geralmente múltiplos, com morfologia globoide. Ofibroqueratoma ungueal é seu principal diagnóstico diferencial.3 Os tumores crescem a partir da dobraungueal, podendo destruir o leito ungueal ao crescimento exagerado. Quandodolorosos, requerem excisão cirúrgica. As alterações histológicas consistemem tecido angiofibrótico denso, às vezes com tecido neuroglial no centro ehiperqueratose na extremidade.4

Dermatofibroma

Representa o segundo tumor fibro-histiocitário mais frequente da pele. Ébenigno e aparece como lesão isolada em extremidades e tronco.14 Dermatofibromas no aparelho unguealsão raros e podem se assemelhar a fibroqueratomas ou dedossupranumerários.4 Nahistopatologia, observa-se hiperplasia da epiderme e hiperpigmentação dacamada basal. Na derme, vê-se tumor de células fusiformes.14,15 O tratamento dessa lesão muitas vezes édesnecessário, mas pode ser realizada exérese cirúrgica.14

Fibrolipoma

É variante benigna de lipoma (Figura 4).Ocorre usualmente como lesão circunscrita solitária subcutânea, composta detecido gorduroso maduro, células fusiformes com CD34 positivo, cordões decolágeno denso, matriz mixoide e vasos sanguíneos.14 O tratamento consiste na remoção cirúrgica e o maisimportante aspecto do diagnóstico diferencial histológico desse lipoma é aexclusão de lipossarcoma.14

Lesões em dedos na prática dermatológica (4)
Figura 4
Imagem intraoperatória de um fibrolipoma localizado no quartoquirodáctilo

Fibromixoma acral superficial

Trata-se de neoplasia benigna e rara, descrita em 2001 por Fetsch etal.,16 que acometepreferencialmente a região sub ou periungueal.16,17Manifesta-se em geral como massa indolor de crescimento lento que acometeprincipalmente extremidades dos dedos dos pés e das mãos de adultos do sexomasculino.17 A análisehistológica mostra lesão mal circunscrita composta por células neoplásicasfusiformes ou estreladas com grau variado de pleomorfismo, dispostas emestroma mixoide e colagenoso.16 Essascélulas apresentam imunorreatividade para CD34, CD99, vimentina e focalmentepara antígeno de membrana epitelial (EMA).16 Na maioria dos casos, o prognóstico é benigno, embora hajarelatos de recorrência local em 22% dos casos.17 Como sua histologia pode variar de tumor com leveatipia celular até atipia nuclear acentuada, com várias figuras de mitosesem raros casos,16 o tratamento deescolha é a ressecção cirúrgica completa com margens livres, devido aopossível risco de transformação maligna.16,17

Melanocíticas

Nevos melanocíticos

São compostos por ninhos de células névicas que derivam de células-tronco dodorso da crista neural, migram para a epiderme e/ou derme no desenvolvimentoembrionário e podem estar presentes em qualquer região do corpo (Figura 5). Podem ser congênitos ouadquiridos, e sua remoção cirúrgica deve ser feita quando houver suspeita demalignidade, por razões estéticas ou psicológicas.14

Lesões em dedos na prática dermatológica (5)
Figura 5
Aspecto clínico de um nevo melanocítico subungueal

Melanoma

Representa 4% dos tumores cutâneos malignos, sendo o câncer de pele de maiormorbidade e mortalidade, embora a prevenção e o diagnóstico precoce tenhamauxiliado no controle da doença.14Cerca de 10% dos casos de melanoma têm história familiar, o que sugerepredisposição hereditária, geralmente associada à síndrome dos nevosatípicos.14 São classificadosclínica e histopatologicamente em melanoma extensivo superficial, nodular,acrolentiginoso (que engloba o melanoma subungueal), lentigo malignomelanoma e outros tipos menos frequentes, como o melanoma spitzoide,melanoma desmoplásico e neurotrópico, e o nevo azul maligno.14,15 A biópsia excisional é a melhor forma de fazer odiagnóstico do melanoma.14 A condutacirúrgica é o tratamento de escolha para a lesão primária, dependendo doestadiamento.14

A incidência do melanoma subungueal é de aproximadamente 1% a 4% de todos osmelanomas. Em negros, a incidência é maior do que em brancos, representandode 15% a 20% de todos os melanomas nesse grupo. É mais comum nas mãos do quenos pés, e o hálux e o polegar são os dedos mais acometidos. Melanoníquiaestriada, sinal de Hutchinson e deformidade da lâmina ungueal são sinaisprecoces para a suspeita do diagnóstico do melanoma subungueal, cujodiagnóstico será confirmado pelo exame histopatológico. Ulceração,sangramento e perda da lâmina ungueal são sinais tardios. Clinicamente, odiagnóstico diferencial do melanoma subungueal é feito com nevos, hematoma,paroníquia, tumor glômico e granuloma piogênico. O exame anatomopatológico éessencial para o diagnóstico.3

No aparelho ungueal, as lesões melanocíticas manifestam-se clinicamente comomelanoníquia, podendo ser devidas à ativação focal dos melanócitos;hiperplasia dos melanócitos; presença de nevo melanocítico ou melanoma namatriz ungueal.4

Epiteliais

Carcinoma espinocelular (CEC)

É o segundo tumor maligno mais frequente na pele (21,7%).14 A doença de Bowen é um carcinoma insitu que pode evoluir para carcinoma espinocelular invasivo.3 O carcinoma de células escamosas doaparelho ungueal (também conhecido como carcinoma epidermoide) é doençamaligna de baixo grau.4 Sua incidênciaé maior em homens entre 60 e 70 anos. O polegar e o hálux são os dedos maisenvolvidos. Na maioria dos casos, esse carcinoma começa na região lateral daunha como placa circunscrita, de superfície verrucosa, podendo levar àdistrofia ungueal. Trauma, infecção crônica e exposição à radiação crônicasão possíveis fatores etiológicos,4bem como a infecção pelo papiloma vírus humano (HPV).3,4 Odiagnóstico é confirmado pelo exame anatomo-patológico, e o tratamento namaioria das vezes é cirúrgico.3

Neurais

Neuroma encapsulado em paliçada

Também conhecido como neuroma solitário circunscrito, consiste em tumorneural da pele, sem associação com outros estigmas da neurofibromatose.18 Em 1972, teve sua primeira descriçãoem um relato de 44 casos por Reed et al., que o denominaramneuroma encapsulado em paliçada da pele.18,19Caracteriza-se, clinicamente, por crescer lentamente e localizar-sesobretudo em face de homens e mulheres de 30 a 60 anos de idade.18 A lesão típica é pápula oupapulonódulo séssil, solitária, indolor, não pigmentada, de consistênciarígida e firme. Quando pressionada, não sofre herniação para a derme, comose observa nos neurofibromas.18Histologicamente, a neoplasia apresenta-se circunscrita à derme e parcial oucompletamente circundada por denso tecido fibroso que forma umacápsula.15,18 A lesão é constituída por inúmerosfascículos fusiformes de células de Schwann com citoplasma eosinofílico eque se coram intensamente para a proteína S100.18 Seus principais diagnósticos diferenciais são:carcinoma basocelular, condrodermatite nodular da hélice, granulomapiogênico, leiomioma, calázio, neurofibroma, querato-se seborreica,queratose actínica, cistos, adenoma sebáceo, tricofoliculoma, espiradenomaécrino, pápula fibrosa da face, nevos e verruga vulgar.18 O tratamento é cirúrgico, com remoção da lesão.20

Neurotequeoma

O neurotequeoma ou mixoma de bainha nervosa é um tumor neuromesenquimatosocaracterizado pela proliferação de células da bainha do nervo em um estromavariavelmente mixomatoso.15,20Constitui-se em geral de lesões assintomáticas que se confundem clinicamentecom cistos mixoides ou ganglionares, nevos melanocíticos dérmicos,fibrolipomas e neoplasias de anexos. O tratamento é realizado por excisão dalesão e, caso a remoção seja incompleta, o mixoma da bainha do nervo poderecorrer.20

Neurofibroma

O neurofibroma é tumor benigno de origem neural, derivado das células deSchwann, que pode ocorrer em qualquer região do corpo, incluindo a pele,sendo raro nas mãos.14,21Clinicamente, os neurofibromas, solitários ou múltiplos, são tumores deconsistência macia, semiglobosos ou pedunculados, normocrômicos ouvioláceos. Podem apresentar-se isolados ou acompanhando síndromes, como aneurofibromatose. Em geral, são assintomáticos, mas podem cursar comprurido, dor e alteração da sensibilidade ao tato.14 Alguns autores relataram incidência de 0,8% paraneurofibromas nas mãos.21 A exéresede tumores cutâneos e o tratamento clínico ou cirúrgico das lesões de outrosórgãos acometidos pela enfermidade podem ser realizados.14 A cirurgia está indicada nos casosde crescimento tumoral exagerado, de dor e quando há suspeita de degeneraçãomaligna.21

Outras lesões tumorais

Onicomatricoma

É tumor benigno e raro da matriz ungueal.3,22 Éassintomático,3 de coloraçãoamarelada e caracteriza-se por espessamento da lâmina ungueal, deformaçãotubular e múltiplas hemorragias em estilhaço.3,22-24 Podeacometer tanto unhas das mãos como dos pés, sem prevalência sexual.22 A avulsão das unhas expõe um tumor emúltiplas digitações filamentosas projetadas a partir da matrizungueal.3,23 A ressonância magnética é útil paradiagnóstico do onicomatricoma,3 e seutratamento é a excisão completa do tumor.3,24

Osteocondroma

São neoplasias benignas e representam o tumor ósseo mais comum do pé (Figura 6), sendo encontrados nas falangesdistais dos pododáctilos,25 maiscomumente do hálux.4 As lesõesiniciam-se como pequenas elevações na região dorsal da falange distal,podendo emergir na borda ungueal e destruir seu leito.26 Sua prevalência é maior em homens e muitas vezes háhistória de trauma local associado. A tríade de dor, deformidade da lâminaungueal e características radiográficas geralmente é diagnóstica. Hácontrovérsias quanto ao fato de a exostose subungueal e o osteocondromaserem entidades diferentes.4 Seutratamento é cirúrgico,4,26,27 a fim deresolver a dor ou incapacidade funcional, ocasionadas seja por compressãoneurovascular ou por limitação do movimento articular.26

Lesões em dedos na prática dermatológica (6)
Figura 6
Osteocondroma em hálux levando à deformidade da lâminaungueal

Lesões traumáticas

Alterações da lâmina ungueal

Existem três tipos principais de hipercurvatura transversa da lâmina ungueal:a unha em pinça; a unha em telha; e a unha em plicatura.4 As causas podemser hereditárias ou adquiridas. Os dedos dos pés são acometidos com maiorfrequência. Os tratamentos conservadores são os preferidos pelos pacientes,porém os tratamentos cirúrgicos produzem os melhores resultados e devem serrealizados quando a lesão provocar dor, inflamação, impedimento do uso decalçados fechados ou constrangimento estético.28

• Unha em pinça

Caracteriza-se por hipercurvatura transversa que aumenta ao longo do eixo, nosentido proximal para o distal.4,28 A dorgeralmente não é muito grave, mas às vezes pode ser intensa.4 O procedimentodefinitivo é o tratamento cirúrgico pela técnica de Haneke.4,27

• Unha em telha

A unha em forma de telha apresenta aumento na curvatura transversa, porém asmargens laterais permanecem paralelas.4,28

• Unha em plicatura

Apresenta convexidade moderada de um ou de ambos os lados das margenslaterais, que alteram abruptamente a angulação e penetram, de formacortante, as laterais do leito ungueal.4,28

• Coiloníquia

Refere-se à concavidade da unha, que assume aspecto “em colher”. A lâminaestá firmemente presa ao osso por feixes verticais de tecido conjuntivo daregião subungueal, ligando-se diretamente ao periósteo.4

Onicocriptose

Ocorre devido à penetração da lâmina ungueal, em graus variados, nos tecidosmoles periungueais.4,27 Pode acontecer por hipertrofia dasdobras ungueais, alteração da curvatura ou inserção distal da lâminaungueal.4 O uso de calçados apertadosque causam excessiva pressão externa, cortes de unha inadequados e traumas sãofatores que levam à onicocriptose. Infecções locais não são raras e devem sertratadas apropriadamente.4 Diversastécnicas de tratamento são citadas, com evidências de que a técnica defenolização da matriz ungueal é eficiente em diversos graus da onicocriptose,promovendo pós-operatório pouco doloroso e rápido retorno às atividades diárias,muitas vezes dispensando a associação da curetagem da matriz.29 A hipertrofia das dobras lateraisgeralmente acompanha as deformidades crônicas ungueais nos pododáctilos. A unhaparece normal ou ligeiramente involuída, mas há aumento de tecido mole que sesobrepõe à lâmina ungueal. Deformidades ósseas, como hálux valgo e hálux rígidofavorecem a hipertrofia das dobras ungueais nos primeiros pododáctilos.4 Nas regiões de impacto, podem-se utilizarprotetores de silicone no espaço interdigital. O tratamento consiste em reduziro excesso de tecido mole periungueal, sendo descritas várias técnicascirúrgicas.4,14,27

Knuckle pads

Coxins interfalangianos ou knuckle pads são nodulaçõeshiperceratósicas, de superfície áspera, discretamente acastanhadas ouacinzentadas, com cerca de um centímetro de diâmetro, geralmente arredondadas,endurecidas, de limites precisos e contornos regulares. São lesõesassintomáticas, de evolução crônica, mais frequentemente localizadas nasarticulações interfalangianas proximais e metacarpofalangianas. A histopatologiaevidencia hiperceratose, acantose e prolongamento das cristas papilares. Otratamento consiste na redução do atrito nas articulações e citam-se a remoçãocirúrgica e a infiltração intralesional de corticosteroides para reduzir alesão.30

Lesões inflamatórias

Psoríase ungueal

A psoríase é doença inflamatória crônica da pele de caráter recidivante.31 O acometimento ungueal da psoríase éaspecto da doença pouco abordado, apesar de sua implicação estética efuncional, o que se reflete no pequeno número de estudos sobre epidemiologiae características clínicas da doença.31 Alterações compatíveis com psoríase ungueal também podem servistas na ausência de doença cutânea, o que ocorre em apenas um a 5% dospacientes.31,32

O efeito da psoríase na matriz resulta em alterações da placa ungueal, taiscomo depressões cupuliformes (pittings), leuconíquia,manchas avermelhadas na lúnula e fragmentação da placa ungueal(crumbling). Já o acometimento do leito ocasionaonicólise, manchas de óleo ou manchas salmão, discromias, hemorragias emestilhas e hiperqueratose do leito ungueal.4,31,32 Apsoríase dos tecidos periungueais é similar à psoríase do dorso dos dedos eé considerada como uma extensão cutânea do acometimento dos dedos.32

Paroníquia crônica

É considerada doença inflamatória com duração superior a seis semanas e envolveuma ou mais pregas ungueais (laterais e proximal). Representa 18% das distrofiasungueais, com maior prevalência no sexo feminino. A paroníquia crônica tem comobase o processo inflamatório e as possíveis infecções são consideradassecundárias. Clinicamente, observa-se inflamação da prega ungueal proximal(PUP), ausência de cutícula e distrofia de placa ungueal.33 A inflamação das pregas ungueais em pododáctilos é comumem atletas e é caracterizada por edema, eritema, dor e secreção purulenta.Muitas vezes, é causada pela pressão do sapato, sendo o hálux maisfrequentemente afetado.4 O tratamentoclínico consiste em evitar fatores predisponentes e uso de medicações tópicase/ou sistêmicas, mas os resultados são frequentemente insatisfatórios.4,33 A cirurgia é indicada nos casos resistentes ao tratamento clínicoe tem como objetivo a retirada da prega ungueal proximal. Baran e Bureandescreveram, em 1981, a técnica da excisão em bloco da prega ungueal proximal,ou técnica com incisão perpendicular. A segunda técnica, descrita em 1976 porKeyser e Eaton, consiste na remoção da superfície dorsal da prega unguealproximal mantendo a porção ventral da dobra, sem a remoção da placa ungueal, ouexérese oblíqua da prega ungueal proximal (Eopup).33

Lesões infecciosas

Verrugas virais

São tumores benignos fracamente infecciosos,1 causados pelo papiloma vírus humano (HPV), que se caracterizampor superfície hiperceratótica de cor amarelo-opaca.1,14 Averruga vulgar representa cerca de 70% das verrugas cutâneas,manifestando-se como pápulas de superfície dura e rugosa, queratóticas, àsvezes com pontos enegrecidos em sua superfície, representando capilarestrombosados. Situam-se em geral no dorso das mãos e dos pés, nas dobrasperiungueais, cotovelos e joelhos.14As verrugas subungueais afetam inicialmente o hiponíquio, crescendolentamente em direção ao leito e finalmente elevando a lâmina ungueal. Aerosão óssea da verruga vulgar ocorre ocasionalmente.1 Existe grande diversidade para tratamento das verrugasvirais, podendo-se utilizar desde o tratamento químico com uso de ácidoslocais, até os cirúrgicos (criocirurgia, eletrocoagulação com ou semcuretagem, laser de CO2, terapia fotodinâmica).14

Outras lesões

Existem diversas outras lesões não incluídas na revisão aqui proposta e que podemaparecer em quirodáctilos e pododáctilos, entre as quais citam-se a queratoseactínica, o tofo gotoso e os dedos extranumerários/rudimentares.

Queratose actínica é uma neoplasia cutânea causada por proliferação dequeratinócitos epidérmicos citologicamente aberrantes em resposta à exposiçãoprolongada à radiação ultravioleta.14 Sãolesões eritêmato-escamosas de textura áspera e aparecimento em locaisfotoexpostos da pele.1,14 Pode ocorrer sua transformação malignapara carcinoma escamocelular (CEC), manifestando-se com infiltração,hiperqueratose, inflamação, ulcerações, recorrência ou mudança repentina nocrescimento.1 A histologia adiferencia do CEC.14

O tofo gotoso é lesão característica da gota, doença inflamatória crônica na qualocorre depósito de monourato de sódio.14Os tofos gotosos podem apresentar-se em diversas localizações, algumas vezesmimetizando patologias infecciosas ou mesmo neoplásicas. A remoção cirúrgica detofos gotosos associa-se à possibilidade de complicações decorrentes dadificuldade de exérese de tofos firmemente aderidos. No entanto, a cirurgia deveser considerada em situações de infecção, ulceração ou dor local intensa, bemcomo por motivos estéticos.34

Dedos rudimentares ou extranumerários são geralmente deformidades congênitasisoladas, mais comumente observadas na região ulnar (pós-axial), implantando-sena região medial dos quintos dedos das mãos. O dedo extranumerário corresponde àduplicação verdadeira, ao passo que o broto rudimentar é uma formaçãoincompleta, que pode necrosar e soltar-se sem dor após o nascimento. Na maioriados casos, a simples ressecção do dedo extranumerário é suficiente comotratamento.35

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento das lesões que se manifestam nos dedos assume, sem dúvida, grandeimportância na rotina do dermatologista. É fundamental, portanto, que se consideremna avaliação dermatológica as diversas possibilidades diagnósticas dessas lesões,sejam elas de apresentação isolada ou manifestação de uma doença sistêmica. Assim, omédico dermatologista adotará uma melhor abordagem para oferecer o tratamento maisadequado e que resulte em melhor impacto estético e funcional para o paciente.

REFERÊNCIAS

Sobanko JF, Dagum AB, Joseph FS, Davis IC, Kriegel DA. Soft TissueTumors of the Hand. 1. Benign. Dermatol Surg.2007;33(7):651-67.

Sobanko JF, Dagum AB, Joseph FS, Davis IC, Kriegel DA. Soft TissueTumors of the Hand. 2. Malignant. Dermatol Surg.2007;33(7):771-85.

Quintella MGM, Rosa IP, Michalany NS, Bilemjiam A, Hirata SH,Enokihara MY, et al. Tumores comuns e raros do aparelho ungueal. RBM rev brasmed. 2009; 66 supl.3:12-4.

Baran R, Dawber RPR, Tosti A, Haneke E. A Text Atlas of NailDisorders-Techniques in investigation and diagnosis. 3rd edition. London: Mosby;2003.

Vanti AA, Cucé LC, Chiacchio ND. Subungual glomus tumor:epidemiological and retrospective study, from 1991 to 2003. An Bras Dermatol.2007;82(5):425-31.

Grover C, Khurana A, Jain R, Rathi V. Transungual surgical excisionof subungual glomus tumour. J Cutan Aesthet Surg.2013;6(4):196-203.

Garg B, Machhindra MV, Tiwari V, Shankar V, Kotwal P.Nail-preserving modified lateral subperiosteal approach for subungual glomustumour: a novel surgical approach. Musculoskelet Surg. 2016;100(1):43-8.

Valentini JD, Aguiar DF, Ferdinando MPL, Wagner M, Silva JB. Handtumors - Part I: Soft tissue tumors. Rev AMRIGS. 2015;59(3):237-42.

Henderson MM, Neumeister MW, Bueno RA Jr. Hand tumors: I. skin andsoft-tissue tumors of the hand. Plast Reconstr Surg.2014;133(2):154e-64e.

Piraccini BM, Bellavista S, Misciali C, Tosti A, de Berker D,Richert B. Periungual and subungual pyogenic granuloma. Br J Dermatol.2010;163(5):941-53.

De Castro CGC, Amorim BDB, Gomes LA, Steffan MS, Vilhena LAP, PlataG. Cisto mixóide simulando melanoma amelanótico: relato de caso. RBM rev brasmed. 2016;72(esp G3):22-5.

Bart RS, Andrade R, Kopf AW, Leider M. Acquired digitalfibrokeratomas. Arch Dermatol. 1968;97(2):120-9.

Pegas JR, Cade KV, Kiyomura MY, Sousa AS, Bazzo ILMS, Tebcherani AJ.Acquired digital fibrokeratoma: report on a clinical case of a clinical case.Surg Cosmet Dermatol. 2012;4(4):357-9.

Belda Júnior W, Di Chiacchio N, Criado PR. Tratado de Dermatologia.2nd ed. São Paulo: Ed. Atheneu; 2015.

Rapini, Ronald P. Dermatopatologia Prática. 2nd ed. Rio de Janeiro:Elsevier; 2013.

Fetsch JF, Laskin WB, Miettinen M. Superficial acral fibromyxoma: aclinicopathologic and immunohistochemical analysis of 37 cases of a distinctivesoft tissue tumor with a predilection for the fingers and toes. Hum Pathol.2001;32(7):704-14.

Souza BGS, Lisboa TP, Barbosa VAK, Almeida JPS, Bacchi CE, Souza VG.Superficial Acral Fibromyxoma of the Thumb: a case report. Rev Bras Ortop.2013;48(2):200-3.

Ravelli FN, Oliveira Filho J, Michalany NS, Afonso IAP, Franchin TB,Macedo ACL. Case report: Palisaded encapsulated neuroma simulating a Basal CellCarcinoma. Surg Cosmet Dermatol. 2013;5(2):177-9.

Reed RJ, Fine RM, Meltzer HD. Palisaded, encapsulated neuromas ofthe skin. Arch Dermatol. 1972;106(6):865-70.

Bolognia J, Jorizzo J, Rapini RP. Dermatology. 3rd edition. London:Ed. Mosby; 2015.

Batista KT, Araújo HJ, Paz Júnior AC. Plexiform neurofibroma of theupper extremity. Rev Bras Cir Plást. 2011;26(3):546-9.

Piraccini BM, Antonucci A, Rech G, Starace M, Mischiali C, Tosti A.Onychomatricoma: first description in a child. Pediatr Dermatol.2007;24(1):46-8.

Baran R, Kint A. Onychomatrixoma: filamentous tufted tumour in thematrix of a funnel-shaped nail: a new entity (report of three cases). Br JDermatol. 1992;126(5): 510-5.

Haneke E, Franken J. Onychomatricoma. Dermatol Surg.1995;21(11):984-7.

Subungual Osteochondroma or Exostosis Cartilaginea of the Hallux: Acase report of recurrent bone tumor one year later. The Foot and Ankle OnlineJournal. 2010;3(2):2.

De Souza AMG, Bispo Junior RZ. Osteocondroma: ignorar ou investigar?Rev bras ortop. 2014;49(6):555-64.

Chiacchio NG, Ferreira FR, Mandelbaum SH, Di Chiacchio N, Haneke E.Nail Surgery: follow-up on cases conducted during a practical course of aDermatological Meeting. Surg Cosmet Dermatol. 2013;5(2):134-6.

Tassara G, Machado-Pinto J, Gualberto GV, Ribeiro BS. Treatment ofpincer nail utilizing Zook's technique: report of 5 cases. An Bras Dermatol.2008;83(3):237-41.

Tassara G, Machado MA, Gouthier MAD. Treatment of ingrown nail:comparison of recurrence rates between the nail matrix phenolization classicaltechnique and phenolization associated with nail matrix curettage - is theassociation necessary? An Bras Dermatol. 2011;86(5):1046-8.

Pereira JM, Pereira FCN, Pereira VCN. Interphalangeal pads onpachyder-modactyly. An Bras Dermatol. 2004;79(3):313-21.

Schons KRR, Knob CF, Murussi N, Beber AAC, Neumaier W, MonticieloOA. Nail psoriasis: a review of the literature. An Bras Dermatol.2014;89(2):317-22.

Tan ES, Chong WS, Tey HL. Nail Psoriasis: A Review. Am J ClinDermatol. 2012;13(6):375-88.

Di Chiacchio N, Debs EAF, Tassara G. Surgical treatment of chronicparonychia: a comparative study of 138 surgeries using two different techniques.Surg Cosmet Dermatol. 2009;1(1):21-4.

Coutinho M, Barcelos A. Tofo gotoso de localização atípica em doentecom múltiplos todos gotosos infectados. Acta Reumatol Port.2010;35(2):271-2.

França Bisneto EN. Deformidades congênitas dos membros superiores.Parte II: falhas de formação e duplicação. Rev Bras Ortop.2013;48(1):3-10.

Notas

Trabalho realizado no Complexo Hospitalar Padre Bento de Guarulhos – Guarulhos(SP), Brasil.

Suporte Financeiro: Nenhum

Autor notes

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Ludmilla Cardoso Gomes | ORCID 0000-0002-8165-5345

Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito;obtenção, análise e interpretação dos dados; aprovação da versão final domanuscrito.

Luisa Preisler | ORCID 0000-0002-1600-9953

Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito;obtenção, análise e interpretação dos dados; aprovação da versão final domanuscrito.

José Roberto Pereira Pegas | ORCID 0000-0002-2541-6008

Concepção e planejamento do estudo; revisão e aprovação da versão final domanuscrito.

Correspondência para: Ludmilla Cardoso Gomes, RuaPadre Estevão Pernet, 579, Ap 31, Vila Gomes Cardim, Tatuapé, 03315-000, SãoPaulo - SP, Brasil.E-mail:ludcardosog@hotmail.com

Declaração de interesses

Conflito de Interesses: Nenhum

Lesões em dedos na prática dermatológica (2024)

References

Top Articles
Latest Posts
Article information

Author: Terence Hammes MD

Last Updated:

Views: 5771

Rating: 4.9 / 5 (49 voted)

Reviews: 80% of readers found this page helpful

Author information

Name: Terence Hammes MD

Birthday: 1992-04-11

Address: Suite 408 9446 Mercy Mews, West Roxie, CT 04904

Phone: +50312511349175

Job: Product Consulting Liaison

Hobby: Jogging, Motor sports, Nordic skating, Jigsaw puzzles, Bird watching, Nordic skating, Sculpting

Introduction: My name is Terence Hammes MD, I am a inexpensive, energetic, jolly, faithful, cheerful, proud, rich person who loves writing and wants to share my knowledge and understanding with you.